Carro elétrico: o que precisas de saber antes da compra

Os veículos elétricos (VE) estão a conquistar as estradas portuguesas. Entre janeiro e abril de 2025, o número de veículos 100% elétricos registados em Portugal aumentou 40% face ao mesmo período do ano anterior. Só no mês de abril, foram adicionados quase 6 mil novos veículos elétricos à frota nacional.

Com incentivos governamentais, preocupações ambientais crescentes, e uma infraestrutura de carregamento em expansão, nunca foi tão atrativo considerar um veículo sustentável. Mas, antes de optares por um elétrico, há detalhes importantes que deves considerar.

Neste guia, vamos explicar-te como funcionam os VE, os custos associados, os incentivos disponíveis, e os modelos mais populares em Portugal.

Como funciona um veículo elétrico?

Um VE funciona com um motor elétrico que é alimentado por uma bateria recarregável. Por não ter motor a combustão, possui menos peças móveis, requer menos manutenção, e oferece uma condução mais silenciosa.

Elétricos vs. Híbridos

• Elétricos puros: funcionam exclusivamente a eletricidade, não têm motor a combustão, e precisam de recarga externa. São 100% livres de emissões.
• Híbridos convencionais: combinam motor a combustão e motor elétrico. A bateria recarrega automaticamente com a travagem regenerativa e não precisa de ser ligada à corrente elétrica.
• Híbridos plug-in: podem ser ligados à tomada para recarregar a bateria, o que lhes permite percorrer alguns quilómetros só a eletricidade.

Quanto custa um veículo elétrico?

Em Portugal, em 2024, o preço médio dos veículos elétricos situou-se entre 30 000 € e 35 000 €. Modelos mais acessíveis, como o Dacia Spring, começam perto dos 20 000 €, enquanto SUV e carros com maior autonomia ultrapassam os 40 000 €.

Incentivos governamentais

Sabemos que o preço é uma das maiores dúvidas – e é normal. Felizmente, há apoios que ajudam a aliviar o impacto na carteira.

O Governo português oferece um apoio de 4000 € para a compra de veículos 100% elétricos, novos, desde que o preço do carro não ultrapasse os 38 500 € e que entregues para abate um veículo a combustão com mais de 10 anos.

Além disso, os veículos 100% elétricos estão isentos do Imposto Sobre Veículos (ISV) e do Imposto Único de Circulação (IUC).

Já os veículos híbridos e híbridos plug-in têm incentivos fiscais diferentes, consoante o tipo de viatura. O Estado não oferece apoios financeiros à compra nem isenção do IUC, mas permite uma redução do ISV consoante o tipo de viatura.

Fatores que influenciam o preço

• Capacidade da bateria: baterias maiores são mais caras, mas permitem viagens mais longas com uma só carga.
• Marca e modelo: marcas mais reconhecidas e modelos com mais tecnologia costumam ser mais caros.
• Ano de fabrico: modelos mais recentes costumam ter tecnologia mais avançada, o que se reflete no preço.
• Quilometragem: nos carros usados, veículos com menos quilómetros valem mais.

Custos e despesas de um carro elétrico

Ter um carro elétrico implica custos diferentes dos veículos a gasolina ou gasóleo. Compreender os gastos com combustível versus eletricidade, assim como a manutenção e outros fatores, é fundamental para tomar uma decisão informada.

Combustível vs. eletricidade

Se considerarmos um carro a gasolina com um consumo médio de 5 litros/100 km e um carro a gasóleo com um consumo médio de 4 litros/100 km:

Nos veículos elétricos, o consumo médio é medido em kWh por 100 km. Um valor típico é de cerca de 15 kWh/100 km. Ora, se considerarmos que o preço médio do kWh no carregamento na rede pública está nos 0,506 €, percorrer 100 km num veículo elétrico custa 7,59 €.

A real poupança está nos carregamentos domésticos: com o kWh a custar 0,204 € na tarifa simples e 0,135 € na tarifa bi-horária, o custo de carregar um veículo elétrico rapidamente desce: 3,06 € para percorrer 100 km com a tarifa simples e 2,03 € para percorrer 100 km com a tarifa bi-horária.

Manutenção

Os carros elétricos têm, geralmente, custos de manutenção mais baixos do que os veículos a combustão. Isso deve-se a vários fatores:

• Menos peças móveis: Um carro elétrico não tem motor de combustão, sistema de escape, nem caixa de velocidades complexa, o que reduz a necessidade de manutenção frequente.
• Sem trocas de óleo: Como não há motor a gasolina ou gasóleo, não é necessário fazer trocas de óleo nem cuidar de filtros relacionados.
• Menor desgaste: Os sistemas de travagem regenerativa ajudam a reduzir o desgaste dos travões e outros componentes.

No entanto, a substituição da bateria pode atingir milhares de euros, embora as baterias durem vários anos (normalmente com garantia de 8 anos ou 160 000 km).

Quanto à assistência técnica dos carros elétricos em Portugal, embora o número de oficinas especializadas esteja a aumentar, é recomendável escolher concessionários autorizados ou oficinas especializadas para garantir uma assistência adequada.

Seguro automóvel

Apesar de alguns estudos apontarem seguros 12% mais caros para VE, muitas seguradoras oferecem condições competitivas. Algumas coberturas específicas incluem:

• cobertura para cabos de carregamento: proteção contra danos ou furto dos cabos de carregamento;
• cobertura de danos durante o carregamento: proteção contra danos ocorridos durante o processo de carregamento;
• assistência em viagem especializada: serviço de reboque até ao posto de carregamento mais próximo em caso de falta de bateria.

Dica: Usa simuladores online e fica atento a campanhas promocionais, como descontos para novos clientes ou para quem subscreve o seguro pela internet.

O que deves considerar antes de comprar um VE?

Comprar carro elétrico é uma ótima opção, mas tem algumas particularidades que deves conhecer para não teres surpresas:

• Autonomia: será que a bateria chega para os teus trajetos diários e semanais?
• Infraestrutura de carregamento: onde é que vais carregar o carro? Tens postos de carregamento perto de casa ou do trabalho?
• Assistência técnica: existem oficinas autorizadas perto de ti? Há profissionais com experiência em veículos elétricos?
• Valor de revenda: os carros elétricos ainda são uma novidade para muitos. Pensa no valor que o carro poderá ter daqui a uns anos e como estará o mercado de usados.

Antes da compra, verifica o histórico do elétrico usado com a carVertical

Comprar um carro elétrico usado pode ser uma boa opção, mas é importante conhecer bem o histórico do veículo. Um relatório completo da carVertical ajuda a reduzir os riscos financeiros e dá-te mais confiança na compra.

Um relatório histórico pode dar-te informações sobre:

Registos de quilometragem – Alguns vendedores manipulam os conta-quilómetros para dar a ideia de que o carro foi menos usado. Isto é especialmente arriscado nos veículos elétricos, porque o desgaste da bateria depende muito do uso real. Com um relatório da carVertical, consegues detetar essas discrepâncias.

Histórico de acidentes – As baterias e os sistemas de alta voltagem são sensíveis às mais pequenas colisões, que podem afetar a segurança e o desempenho do carro. O relatório mostra os danos registados, os custos estimados de reparação, e as áreas afetadas.

Além disso, o relatório também ajuda a identificar outras situações, como:

• verificar se o carro foi roubado;
• confirmar o número de proprietários;
• perceber se o veículo foi importado;
• saber se sofreu danos causados por desastres naturais (por exemplo, inundações);
• avaliar se o preço pedido está alinhado com o valor de mercado;
• confirmar as especificações originais e equipamentos instalados.

Vantagens e desvantagens dos veículos elétricos

Antes de decidires comprar um carro elétrico, é importante perceberes se este tipo de veículo se encaixa no teu dia a dia e estilo de vida.

Vantagens dos veículos elétricos

• Baixo custo de manutenção: menos peças móveis e ausência de óleo reduzem as despesas em oficinas;
• Economia no combustível: a eletricidade é muito mais barata do que o combustível;
• Condução silenciosa: o motor elétrico é praticamente inaudível;
• Zero emissões: o VE não produz gases poluentes durante a condução;
• Incentivos e benefícios fiscais: poupas em impostos como o ISV e o IUC, além de teres apoio na compra, se o veículo for novo;
• Acesso a zonas restritas: permissão para circular em áreas urbanas restritas a veículos poluentes.

Desvantagens dos veículos elétricos

• Autonomia limitada: a maioria dos VE oferece menos alcance do que os veículos a combustão com o depósito cheio;
• Infraestrutura de carregamento: a rede de postos de carregamento ainda não cobre todas as áreas, o que pode dificultar viagens mais longas;
• Tempo de carregamento: carregar uma bateria demora mais tempo do que abastecer um carro num posto de combustível convencional;
• Preço inicial elevado: o custo de aquisição é, regra geral, mais alto do que o de modelos equivalentes a combustão;
• Valor de revenda incerto: a rápida evolução da tecnologia pode desvalorizar modelos mais antigos;
• Desgaste da bateria: com o tempo e o uso, a capacidade da bateria diminui, afetando a autonomia e o desempenho do veículo.

Quanto tempo dura uma bateria?

As baterias dos carros elétricos costumam ter uma garantia de 8 a 10 anos ou até cerca de 160 000 km.

O que afeta a vida útil da bateria?

• Hábitos de carregamento: Carregamentos rápidos frequentes ou sempre até aos 100% podem desgastar a bateria. O ideal é mantê-la entre os 20% e os 80%.
• Clima: Temperaturas extremas podem afetar o desempenho e a durabilidade da bateria.
• Estilo de condução: Acelerações bruscas e travagens fortes exigem mais da bateria e podem acelerar o desgaste.
• Sistema de gestão da bateria: veículos mais modernos protegem melhor a bateria, ao controlarem a temperatura e o carregamento.

Sinais de desgaste da bateria

• O carro já não faz tantos quilómetros com uma carga, como fazia no início.
• Os carregamentos demoram mais ou nunca chegam aos 100%.
• Aparecem alertas ou luzes no painel, relacionados com a bateria.

Substituição e custos

Trocar a bateria pode ser bastante caro – os preços variam bastante, mas normalmente rondam os 5000 € a 15 000 €, dependendo do modelo. A boa notícia é que os preços das baterias têm vindo a baixar. Algumas marcas de carros elétricos oferecem programas de substituição ou recondicionamento, e por vezes é possível trocar apenas partes da bateria (módulos), o que fica mais em conta.

Infraestrutura de carregamento de carros elétricos em Portugal

Portugal tem vindo a desenvolver rapidamente a sua rede de carregamento. Em janeiro de 2025, a rede pública Mobi.E contava com:

• cerca de 5800 postos públicos;
• mais de 10 800 tomadas;
• cerca de 2200 tomadas fast ou ultra-fast (> 22 kW);
• 90 tomadas por cada 100 km de estrada;
• 122 pontos de carregamento por cada 100 000 habitantes.

Embora esteja em crescimento, o número atual ainda fica aquém da meta de 15 000 postos públicos até 2025, estabelecida pelo Governo. A maior parte das tomadas públicas está concentrada nas zonas urbanas – em áreas rurais ainda existem lacunas notórias. Se fores viajar, é uma boa ideia planeares onde vais carregar o carro.

Carregamento doméstico

Para muitos, o carregamento em casa é o método mais prático e económico.

Um carregador doméstico (wallbox) custa entre 500 € a 1000 €, valor que inclui o equipamento e a instalação. O Fundo Ambiental oferece um incentivo de 80% sobre a compra (até 800 € por posto) e 80% da instalação elétrica (até 1000 € por lugar de estacionamento), válido para edifícios ou condomínios ligados à rede Mobi.E.

Quanto tempo demora a carregar um veículo elétrico?

A resposta é: depende. O tempo de carregamento varia bastante conforme o tipo de carregador, o modelo do veículo, e até o nível de carga no momento.

Tipos de carregamento

• Nível 1 (tomada doméstica normal – 2,3 kW): É o mais lento. Pode demorar mais de 24 horas para uma carga completa. Serve só para emergências ou carregamentos muito ligeiros.
• Nível 2 (carregador doméstico ou público – 7 a 22 kW): Este é o mais usado no dia a dia. Um carro médio carrega dos 20% aos 80% em 4 a 8 horas. Ideal para usar à noite, em casa, ou no trabalho.
• Carregamento rápido (50 a 350 kW): Em estações rápidas, podes carregar dos 20% aos 80% em apenas 20 a 40 minutos. Carros mais novos e caros aceitam potências acima de 100 kW, o que reduz ainda mais o tempo.

Dicas para otimizar o carregamento

• Não precisas de carregar a bateria até aos 100% todos os dias. Aliás, carregar até aos 80% ajuda a preservar a saúde da bateria.
• Recorre aos carregamentos rápidos apenas em situações pontuais, como viagens longas – além de serem mais caros, desgastam mais a bateria.
• Se tiveres posto de carregamento em casa, carrega à noite, quando a eletricidade é mais barata (se tiveres tarifa bi-horária).

Veículos elétricos populares em Portugal

Se estás a pensar dar o salto para um carro elétrico, talvez ajude saber quais são os modelos mais populares entre os condutores portugueses.

• Renault 5 E-Tech (Autonomia: ~410 km | Desde 24 900 €) – um clássico reinventado, compacto e ágil, perfeito para a mobilidade urbana e estilo retro moderno.
• Tesla Model 3 (Autonomia: ~702 km | Desde 39 990 €) – referência em inovação, combina desempenho, tecnologia avançada, e uma autonomia que permite viagens longas com uma só carga.
• PEUGEOT E-208 (Autonomia: ~423 km | Desde 29 935 €) – design elegante e moderno, ideal para quem procura um elétrico versátil, confortável e eficiente no dia a dia.
• Volkswagen ID.3 (Autonomia: ~387 km | Desde 38 821 €) – espaçoso e tecnológico, combina conforto e eficiência, ideal para famílias urbanas que querem avançar para o elétrico.
• Hyundai KAUAI EV (Autonomia: ~509 km | Desde 28 447 €) – SUV compacto com boa autonomia, versátil, com tecnologia de assistência para uma condução segura e confortável.
• Fiat 500e (Autonomia: ~460 km | Desde 31 071 €) – estilo icónico e compacto, combina charme italiano com uma autonomia surpreendente para um elétrico urbano.

E os carros elétricos chineses?

Nos últimos tempos, marcas chinesas como a BYD estão a ganhar força em Portugal e noutros países europeus. Aliás, a BYD foi a marca de elétricos que mais cresceu em Portugal no ano de 2024, com um aumento de 553,1% nas vendas. Porquê?

• Preços mais competitivos – propõem carros com boa autonomia e bons equipamentos por valores mais baixos que as marcas tradicionais.
• Tecnologia própria – a BYD, por exemplo, fabrica as suas próprias baterias, o que lhes dá mais controlo e inovação.
• Presença crescente na Europa – já existem modelos à venda em Portugal e a rede de assistência está a crescer.

No entanto, há pontos a ter em atenção: a cobertura da assistência técnica ainda está em desenvolvimento, nem todos os modelos têm compatibilidade 100% garantida com carregadores europeus, e a revenda pode ser menos previsível (por agora).

Então… vale ou não a pena comprar um veículo elétrico?

Depende de ti – do teu estilo de vida, do teu orçamento, e das tuas prioridades. Os veículos elétricos podem ser uma ótima escolha se:

• fazes trajetos diários (ou até semanais) dentro da autonomia do veículo;
• tens (ou pretendes instalar) carregamento em casa;
• gostavas de reduzir custos com combustível e manutenção;
• queres aproveitar os incentivos e benefícios fiscais disponíveis.

Antes de avançar, pesa bem os prós e os contras, verifica o histórico do carro (se for usado!), e faz as contas ao investimento a médio e longo prazo. Um elétrico não é para toda a gente – mas para muitos já faz todo o sentido.